Violência doméstica.

ONU alerta que pandemia terá “impacto catastrófico” nas mulheres

por Alexandre Brito – RTP

Uma mulher do Senegal que foi violada duas vezes, em casa, segura no bebé com quatro meses Reuters

São os danos colaterais provocados da Covid-19. As Nações Unidas alertaram hoje que o isolamento obrigatório de milhões de pessoas em casa vai originar um aumento em 20 por cento da violência doméstica. Isto porque as vítimas ficam encurraladas em casa com os abusadores.Diz a ONU que esta pandemia terá um “impacto catastrófico” nas mulheres. Entre vários problemas, refere que dezenas de milhões de mulheres não vão conseguir acesso a contraceptivos e milhões de meninas podem ser obrigadas a casar ou serão vítimas de mutilação genital. De acordo com a ONU, cada três meses de isolamento pode ter como resultado um aumento em 15 milhões de novos casos de abuso doméstico. São projeções que levam a ONU a falar de uma “pandemia na sombra” da Covid-19. São vários os países que já reportaram um aumento das chamadas telefónicas para as linhas de apoio à vítima. Outra situação referida pela ONU, como preocupante, é o facto de os serviços que normalmente dão apoio às vítimas de violência doméstica estarem também eles confinados, pelo que não conseguem acudir como normalmente fazem. “A pandemia está a aprofundar as desigualdades, e milhões de mulheres e meninas arriscam nesta altura perder a sua capacidade de planeamento familiar e de proteção dos seus corpos e da sua saúde”, disse à Reuters, Natalia Kanem, da ONU. Investigadores da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, e da Universidade Victoria, na Austrália, dizem que se o confinamento durar três meses cerca de 44 milhões de mulheres de 114 países com rendimentos baixos e médios podem perder o acesso a contraceção, o que vai resultar em um milhão de gravidezes não planeadas. O número passa para 7 milhões caso o confinamento se prolongue durante seis meses. “Estes são cenário muitos realistas”, disse Ramiz Alakbarov, também das Nações Unidas. “Esta é uma crise dentro de uma crise para as mulheres”. A ONU insiste na necessidade de as autoridades dos vários países não deixarem cair o apoio às mulheres vítimas de abusos, tal com insiste na necessidade de se manter os cuidados de planeamento familiar. Os mesmo investigadores alertam para outra realidade negra. Durante este período podem ser efetuados cerca de 13 milhões de casamentos com crianças. A pobreza em várias regiões, agudizada pela Covid-19, pode levar as famílias a casarem as filhas mais cedo.

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